Chegamos
na hora do almoço. O lanche de bordo, composto por uma
barra de cereal e um copo de refrigerante, não foi capaz
de satisfazer aos apetites da maioria. Lembrei da comida espacial.
Saudade do tempero de casa. Imaginei os pratos tradicionais do
nordeste. Afinal, chegara ao Recife! “Cai na real”
logo no saguão do aeroporto. Teria que correr para chegar
à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) a tempo da
conferência marcada para mais de três mil alunos.
O almoço ficou para o dia seguinte. Um pão de queijo
enrolou o estômago. Solução mineira regada
à água de côco...de caixinha. “Mas que
coisa! Acabei de chegar de Houston para tomar água de côco
de caixinha na beira da praia! O que está acontecendo nessa
terra?”, pensei.
O clima do nordeste era magnífico. A praia, em frente do
hotel, era maravilhosa. Vi pela janela.
Deixamos as malas no hotel. Tomei um banho rápido. Troquei
de roupas. Segui para a UFPE.
Durante uma hora, falei sobre várias coisas. Da minha vida
como aprendiz de eletricista em Bauru até os detalhes da
missão espacial. Olhos e ouvidos atentos acompanhavam cada
detalhe da descrição.
Nos comentários e perguntas que se seguiram ao evento,
comprovei a motivação pela narrativa. A esperança
no sonho de criança. A curiosidade pelas belezas do espaço.
Tudo se misturava na imaginação daqueles jovens.
Eu fiquei feliz.
Do lado de fora, depois de encerrada a sessão de autógrafos,
acompanhamos o lançamento de um foguete miniatura. Trabalho
de crianças carentes da cidade. Orgulho de instrutores
de bom coração. Fiquei orgulhoso daqueles brasileiros
também. Quem sabe essa semente de boa atitude não
germine por todo o país. Quem sabe não teremos mais
e mais pessoas dando alguma parte do seu tempo e conhecimento
para ajudar na educação de nossas crianças.
Quem sabe não fazemos, juntos, decolar, para bem alto,
seus sonhos e ideais. Quem sabe....
A noite, encontrei com amigos. Tempo gostoso. Conversas e sorrisos.
Histórias antigas. Interpretações novas.
Carinho. Família.
O dia seguinte começou cedo, cinco da manhã. Entrevistas
e mais entrevistas.
A segurança de vôo assumiu o controle da situação.
Preparação. Velhos amigos. Organização
nova: a Agência Nacional de Aviação Civil
(ANAC). A responsabilidade de sempre: evitar acidentes aéreos.
Participei do XIV SEMINÁRIO REG. DE AVIAÇÃO
CIVIL. Essa atividade, a segurança de vôo,
tem estado em minha vida profissional desde 1986, quando iniciei
minhas funções no esquadrão Centauro, em
Santa Maria. Desde então, faz parte das minhas paixões.
Falar sobre o tema da gerência do risco e da segurança,
seja de vôo, seja no trabalho, ou em qualquer contexto,
é sempre um prazer para mim.
Falei bastante. Foram quase duas horas. A platéia, composta
de aviadores e pessoas ligadas a aviação, militares
e civis, animou o longo discurso.
A noite terminou com um jantar. Dessa vez não era pão
de queijo. Era comida tradicional do nordeste. Dormi feliz. Decolei
cedo para São Paulo. Retorno para Houston hoje. Saudades
da praia. Nem que fosse pela janela....
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