ACONTECEU NO RECIFE

Marcos Pontes
24/09/2006

Chegamos na hora do almoço. O lanche de bordo, composto por uma barra de cereal e um copo de refrigerante, não foi capaz de satisfazer aos apetites da maioria. Lembrei da comida espacial. Saudade do tempero de casa. Imaginei os pratos tradicionais do nordeste. Afinal, chegara ao Recife! “Cai na real” logo no saguão do aeroporto. Teria que correr para chegar à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) a tempo da conferência marcada para mais de três mil alunos. O almoço ficou para o dia seguinte. Um pão de queijo enrolou o estômago. Solução mineira regada à água de côco...de caixinha. “Mas que coisa! Acabei de chegar de Houston para tomar água de côco de caixinha na beira da praia! O que está acontecendo nessa terra?”, pensei.
O clima do nordeste era magnífico. A praia, em frente do hotel, era maravilhosa. Vi pela janela.
Deixamos as malas no hotel. Tomei um banho rápido. Troquei de roupas. Segui para a UFPE.
Durante uma hora, falei sobre várias coisas. Da minha vida como aprendiz de eletricista em Bauru até os detalhes da missão espacial. Olhos e ouvidos atentos acompanhavam cada detalhe da descrição.
Nos comentários e perguntas que se seguiram ao evento, comprovei a motivação pela narrativa. A esperança no sonho de criança. A curiosidade pelas belezas do espaço. Tudo se misturava na imaginação daqueles jovens. Eu fiquei feliz.
Do lado de fora, depois de encerrada a sessão de autógrafos, acompanhamos o lançamento de um foguete miniatura. Trabalho de crianças carentes da cidade. Orgulho de instrutores de bom coração. Fiquei orgulhoso daqueles brasileiros também. Quem sabe essa semente de boa atitude não germine por todo o país. Quem sabe não teremos mais e mais pessoas dando alguma parte do seu tempo e conhecimento para ajudar na educação de nossas crianças. Quem sabe não fazemos, juntos, decolar, para bem alto, seus sonhos e ideais. Quem sabe....
A noite, encontrei com amigos. Tempo gostoso. Conversas e sorrisos. Histórias antigas. Interpretações novas. Carinho. Família.
O dia seguinte começou cedo, cinco da manhã. Entrevistas e mais entrevistas.
A segurança de vôo assumiu o controle da situação. Preparação. Velhos amigos. Organização nova: a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). A responsabilidade de sempre: evitar acidentes aéreos. Participei do XIV SEMINÁRIO REG. DE AVIAÇÃO CIVIL. Essa atividade, a segurança de vôo, tem estado em minha vida profissional desde 1986, quando iniciei minhas funções no esquadrão Centauro, em Santa Maria. Desde então, faz parte das minhas paixões. Falar sobre o tema da gerência do risco e da segurança, seja de vôo, seja no trabalho, ou em qualquer contexto, é sempre um prazer para mim.
Falei bastante. Foram quase duas horas. A platéia, composta de aviadores e pessoas ligadas a aviação, militares e civis, animou o longo discurso.
A noite terminou com um jantar. Dessa vez não era pão de queijo. Era comida tradicional do nordeste. Dormi feliz. Decolei cedo para São Paulo. Retorno para Houston hoje. Saudades da praia. Nem que fosse pela janela....

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